quarta-feira, 15 de abril de 2020

VIDAS

Candidatura à CONTEXTILE 2020- Lugares da memória
VIDAS (100x150 cms)
   “No mapa do nosso cérebro, apenas fica impresso o que provoca impacto emocional, positivo ou negativo. Pessoas, lugares e experiências, que nos deixem indiferentes, deslizam para o esquecimento no longo prazo. São assim as emoções, de todos os tipos e intensidades, que definem os lugares da memória que nos é possível revisitar.
   Nesta escultura mural, entrego-me a uma divagação estética, numa matriz de várias vidas, sobre este conceito de sistema binário, aqui representado pela utilização do preto (tristeza, dor, sofrimento...) e do branco (alegria, prazer, bem-estar...).
   O observador pode assim dar asas à sua imaginação e, com base neste diagrama de emoções, criar histórias de vida para cada cordão.

   Na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma... Assumindo uma postura reativa contra o chocante desperdício da sociedade atual, vou guardando todas as sobras aproveitáveis dos meus trabalhos. Delas é maioritariamente composta esta peça, formada por cerca de 20 000 pedaços de lã feltrada, enrijecida, cortados manualmente, um a um.


   Passei perto de três meses a trabalhar nesta peça dedicando-lhe, em média, 10/12 horas por dia, sete dias por semana, para me candidatar à bienal internacional de arte têxtil de Guimarães. Depois de uma longa espera saiu, finalmente, na semana passada, a lista dos 50 artistas selecionados, da qual não consta o meu nome.
   Já tinha concorrido anteriormente mas, desta vez, estava com uma grande fezada de que seria aceite. Foi um enorme balde de água fria. Há uns anos atrás, uma coisa destas teria tido em mim um efeito devastador, do qual teria demorado algum tempo a recuperar… Felizmente, aquela que sou hoje nada tem a ver com a pessoa que fui.
   A idade concede-nos alguma serenidade e sabedoria mas, sobretudo, fiz, faço e tenciono continuar a fazer, até ao meu último folego, um esforço consciente por viver cada vez melhor, por ser cada vez melhor. Dedico-me muito ao meu jardim, lutando contra as ervas daninhas e cuidando das outras plantas. É um trabalho sem fim, que não se pode nunca descurar.
   Assim, uma das coisas que decidi erradicar foi a autocomiseração, que não tem qualquer função positiva. É um sentimento que surge naturalmente em determinadas situações mas que não tem a mais pequena utilidade pelo que mais vale não o alimentar. A nossa vida está nas nossas mãos, o nosso caminho é aquele que escolhemos e, quando pelo meio encontramos obstáculos, temos de arranjar forma de os ultrapassar.
   Porque é que ser incluída nesta mostra de arte têxtil era importante?! Porque era uma forma de ganhar visibilidade e credibilidade. Se é verdade que, actualmente, graças à internet, os artistas já não precisam de andar com as suas obras debaixo do braço a bater às portas, a realidade é que somos sete cães a um osso e continua a não ser nada fácil ganhar reconhecimento público. Assim, qualquer validação de entidades oficiais que possamos incluir no nosso curriculum, é valiosa.
   Apesar do caminho me ter sido apontado com setas de néon e de ter feito um percurso académico ligado às artes, só recentemente vi a luz. Mais vale tarde do que nunca, é certo, mas não tenho o tempo a meu favor. Olho para os meus primeiros trabalhos e para aquilo que faço hoje e custa-me a acreditar que ainda nem três anos passaram desde que comecei. Ainda estou, no entanto, longe de conseguir viver da minha arte e voltar para a frente de um computador não é para mim opção. Descobri que isto não é aquilo que FAÇO, é aquilo que SOU e lutarei, de unhas e dentes, pelo meu lugarzinho ao sol.
   Sim, a Contextile era importante, era uma ajuda… mas imaginem lá que uma mascara que fiz, por graça, para um pequeno concurso de arte têxtil, anda a correr a internet, está por todo o lado com, literalmente, milhares de visualizações, likes, comentários, partilhas. Dizem que quando Deus fecha uma porta, abre uma janela… quem sabe se esta brincadeira não irá propulsionar, de alguma forma, o meu trabalho mais sério…


   Uma coisa é certa, não tenho intenções de baixar os braços e continuarei caminho alegremente, que tristezas não pagam dívidas. ;)




COM MÚSICA

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