segunda-feira, 29 de março de 2010

Amor é...

COM MÚSICA



Quem não se lembra dos bonequinhos da Kim Grove sobre o tema?! Amor é isto, amor é aquilo… ;)
Tantos tentaram defini-lo, tantos o “cantaram”…deve ser dos temas mais abordados desde os primórdios da humanidade. Tantos poemas, canções, quadros, esculturas, peças de teatro, filmes, lhe foram dedicados. Tanta coisa foi feita em seu nome…
A maior parte de nós sente-o ou já sentiu em determinada altura da sua vida.
Amo-te, adoro-te, serão possivelmente as palavras mais batidas em todas as línguas…

Pergunto-me, no entanto, se será de facto o mesmo sentimento para toda a gente.
A minha visão do amor, por exemplo, pressupõe altruísmo, uma certa dose de sacrifício em prol da felicidade do ser amado, empenho nesse sentido…
Observo no entanto que, muitos dos que afirmam sentir amor… pelos filhos, pela mulher, pelo cão… frequentemente não o demonstram desta forma.
Verifico, com demasiada frequência, atitudes que não me parecem coerentes com este sentimento…

Quantos homens não espancam as mulheres e/ou os filhos, sujeitando-os a um permanente clima de terror, fazendo-os chegar a duvidar se o merecem.
Quantos pais não levam as suas vidas como se não tivessem filhos, chutando-os dos avós para as babysitters, isto quando não os deixam mesmo sozinhos.
Quantos cônjuges não têm aventuras, fixas ou voláteis, insistindo em manter-se numa relação na qual se recusam no entanto a investir.
Quantos pais separados não vêem os filhos durante meses, anos às vezes, entrando e saindo das suas vidas sem a mínima preocupação relativamente ao que isso irá fazer ás suas cabecinhas.
Quantos donos não “mimam” os seus cães com comidas impróprias, que os fazem inchar que nem balões e perder consequentemente a saúde ou se ausentam deixando os gatos fechados em condições de higiene duvidosas, ás vezes sem água ou comida suficientes.

Poderia arranjar muitos, mas muitos, mais exemplos de casos, infelizmente corriqueiros, uns mais extremos que outros, em que a felicidade e bem estar do ser “amado” não são tidos em consideração.
Acredito no entanto que, algumas dessas pessoas, se sintam absolutamente destroçadas se o perderem. Que, em muitos casos, estivessem dispostas a dar um rim por ele, a vida até… Acredito que sintam saudades lancinantes se dele estiverem separadas. Que o olhem como uma das coisas mais importantes das suas vidas…

Parece-me no entanto que, para alguns, o amor é um sentimento passivo…
Não sentem necessidade de o demonstrar, de o partilhar. Afirmam-no e isso é suficiente. Não parecem ter a noção de que o outro precisa de se sentir amado, não em situações extremas, de vida ou de morte, que felizmente não se nos apresentam frequentemente, mas no dia a dia.
Para nos sentirmos de facto amados precisamos que nos tratem com respeito e consideração e precisamos de constância nesse tratamento… para nos sentirmos amados temos de nos sentir importantes para a outra pessoa e não "saber" que somos.  A incongruência de algumas atitudes leva-nos a duvidar.

Pergunto-me, muito sinceramente, o que é o amor para certas pessoas…


domingo, 21 de março de 2010

O máximo


COM MÚSICA
Acredito genuinamente que ser-se bem fornecido de ego seja o primeiro requisito para sermos felizes.
Os Calimeros  deste mundo, aqueles que passam a vida a queixar-se de como são feios, estúpidos, pouco dignos de amor e por aí a fora… duvido que alguma vez consigam realmente saber do que estou a falar.


Eu pessoalmente (e digo-o sem qualquer pudor) gosto bastante de mim própria.
Sou essencialmente uma pessoa simpática. Gosto à brava de gente e parto do princípio que todos são boas pessoas até prova do contrário. Existe um princípio jurídico do género chamado presunção de inocência, acho que é um bom princípio. ;)
Logo, trato tendencialmente bem as pessoas, tentando não criar ondas nem atritos. O meu amor pelo género humano é habitualmente correspondido.

Claro que toda a regra tem excepção e há quem não me possa suportar, nem com molho de tomate…Já chegaram a ligar-me, ás tantas da manhã, para me insultar, gritando-me (entre outras coisas) estridentemente aos ouvidos “…e se julgas que eu não sei cortar alho, estás muito bem enganada, óvistes???!!!”
Mas isso não interessa nada porque, das pessoas de quem não gosto ou que não gostam de mim, e que curiosamente tendem a ser as mesmas, afasto-me.

Quando tenho oportunidade faço qualquer coisita pelo próximo, o que me faz sentir muito bem comigo própria (sou uma egoísta…) e sinto que, no geral, dou a minha modesta contribuição para “um mundo melhor”.
Vivo feliz, em paz e serenidade e sinto-me bem comigo e com os outros.
Estou perfeitamente consciente de que tenho ainda muitas arestas para limar, como toda a gente, mas vou enfrentando um dia de cada vez, sempre com esse propósito em mente.

No oposto dos Calimeros, temos aqueles que se acham o máximo…
Once upon a time, tive um amigo que se achava o máximo e nunca se cansava de o apregoar. Nunca vi um ego tão grande em toda a minha vida… É o menino da história do barco, do início deste post

Achava-se inteligentíssimo… e era, tinha um cérebro de fazer inveja a muita gente. Que o diga a sua carreira que, até ao ponto em que a conheço, foi brilhante.
Achava-se cultíssimo… e era, uma pessoa bem formada, com boas bases. Qualquer tema que o interessasse era estudado até à exaustão.
Achava-se engraçadíssimo… e era, quantas vezes não estive à beira de ter de mudar a fralda, ao ouvir deliciada as histórias que contava. Fazia qualquer episódio banal parecer interessantíssimo, se bem que os episódios da vida dele raramente eram banais…
Achava-se um borracho… bem… isso não acho que fosse, mas é só a minha opinião pessoal... lol Mas acho que tinha pinta, muita pinta e uma lábia sem igual.
Achava-se um grande mestre da sedução… e era, faria corar o D. Juan de humilhação, confesso que não conheço ninguém de carne e osso com um portfolio como o dele… a não ser talvez o Galo Tito.
Achava-se muito sábio… de facto, era absolutamente impressionante o conhecimento teórico que tinha do género humano, as conclusões a que chegava, os sentimentos e reacções que conseguia identificar e analisar.
E mais razões teria para se achar o máximo…

A questão é que raríssimamente vi o Máximo  utilizar qualquer destas características para ser ou tornar alguém feliz….
A pessoa que acabei de descrever, e que não passa de um exemplo, tinha toda a matéria-prima necessária para ser uma pessoa de excepção… mas não era. Sou daquelas que ainda acreditam no Pai Natal, não sei no que se terá transformado…
Do alto do seu ego passou a vida a desperdiçá-la, a pô-la constantemente em risco assim como as dos outros, a magoar quem gostava dele, a fazer escolhas erradas, a desprezar tudo o que de bom lhe ia parar ao colo…
O resultado prático é que, at the end of the day, só mesmo ele é que se achava o máximo.

Conclusão, quando o vosso ego vos disser que ninguém vos chega aos calcanhares, quando se acharem o máximo, façam um favor a vocês próprios… peçam uma segunda opinião. ;)

O máximo

Acredito genuinamente que ser-se bem fornecido de ego seja o primeiro requisito para sermos felizes.
Os Calimeros  deste mundo, aqueles que passam a vida a queixar-se de como são feios, estúpidos, pouco dignos de amor e por aí a fora… duvido que alguma vez consigam realmente saber do que estou a falar.


Eu pessoalmente (e digo-o sem qualquer pudor) gosto bastante de mim própria. Acho que se eu não fosse eu, também gostaria muito de mim… lol
Sou essencialmente uma pessoa simpática. Gosto à brava de gente e parto do princípio que todos são boas pessoas até à prova do contrário. Existe um princípio jurídico do género chamado presunção de inocência. Acho que é um bom princípio. ;)

Logo, trato tendencialmente bem as pessoas, tentando não criar ondas nem atritos. O meu amor pelo género humano é correspondido e, no geral, as pessoas também gostam de mim.
Claro que toda a regra tem excepção e há quem não me possa suportar, nem com molho de tomate…Já chegaram a ligar-me, ás tantas da manhã, para me insultar, gritando-me (entre outras coisas) estridentemente aos ouvidos “…e se julgas que eu não sei cortar alho, estás muito bem enganada, óvistes???!!!”
Mas isso não interessa nada, porque das pessoas de quem não gosto ou que não gostam de mim, e que curiosamente tendem a ser as mesmas, afasto-me.

Sempre que tenho oportunidade faço qualquer coisita pelo próximo, o que me faz sentir muito bem comigo própria (sou uma egoísta…) e sinto que, no geral, dou a minha modesta contribuição para “um mundo melhor”.
Vivo feliz, em paz e serenidade e sinto-me bem comigo e com os outros.
Estou perfeitamente consciente de que tenho ainda muitas arestas a limar, como toda a gente, mas vou enfrentando um dia de cada vez, sempre com esse propósito em mente.

No oposto dos Calimeros, temos aqueles que se acham o máximo…
Tive um amigo que se achava o máximo e nunca se cansava de o apregoar. Nunca vi um ego tão grande em toda a minha vida… É o menino da história do barco, do início deste post
Achava-se inteligentíssimo… e era, tinha um cérebro de fazer inveja a muita gente. Que o diga a sua carreira que, até ao ponto em que a conheço, foi brilhante.
Achava-se cultíssimo… e era, uma pessoa bem formada, com boas bases. Qualquer tema que o interessasse era estudado até à exaustão.
Achava-se engraçadíssimo… e era, quantas vezes não estive à beira de ter de mudar a fralda, ao ouvir deliciada as histórias que contava. Fazia qualquer episódio banal parecer interessantíssimo, se bem que os episódios da vida dele raramente eram banais…
Achava-se um borracho… bem… isso não acho que fosse, mas é só a minha opinião pessoal. Acho que tinha pinta, muita pinta e uma lábia sem igual.
Achava-se um grande mestre do engate… e era, faria corar de humilhação o D. Juan, confesso que não conheço ninguém de carne e osso com um portfolio como o dele… a não ser talvez o Galo Tito ...
Achava-se muito sábio… e, de facto, era incrível o conhecimento teórico que tinha do género humano, os sentimentos e reacções que conseguia identificar e analisar.

A questão é que raríssimamente vi o Máximo  utilizar qualquer destas características para ser ou tornar alguém feliz….
O ser que acabei de descrever tem toda a matéria prima necessária para ser uma pessoa de excepção e não é. Correcção; não era, que eu sou daquelas que ainda acreditam no Pai Natal e não sei no que se terá transformado… ;)
Do alto do seu ego passou a vida a desperdiçá-la, a pô-la em risco constantemente, assim como a dos outros, a magoar as pessoas que gostavam dele, a fazer escolhas erradas, a desprezar tudo o que de bom lhe ia parar ao colo…
O resultado prático é que só mesmo ele é que se achava o máximo.

Quando se acharem o máximo, quando o vosso ego vos disser que são do melhor que há por aí, façam um favor a vocês próprios… peçam uma segunda opinião. ;)





segunda-feira, 15 de março de 2010

Para além dos rótulos

COM MÚSICA



Apesar de todos estarmos perfeitamente conscientes de que pessoas são pessoas, o nosso primeiro contacto com cada uma irá, antes do mais, ser influenciado pelo seu “rótulo”…
Antes de encararmos alguém como ser humano, a tendência natural é de o vermos como o empregador, o médico, o advogado, o vizinho, o aluno, a celebridade, o pobrezinho, o polícia, o rival, etc… Estes rótulos ser-lhes-ão aplicados por nós, consoante a circunstância e, inútil será dizer, cada um poderá ter outros em diferentes situações.

Em alguns casos, estes estarão associados, nas nossas cabeças, a uma série de características (diferentes para cada um de nós) que atribuímos à “espécie”… Assim poderemos considerar, por exemplo, que os políticos são corruptos, os moedinhas drogados e os actores de cinema o máximo… Sem sequer conhecermos a pessoa, já estaremos a fazer juízos de valor.

Por outro lado, estes mesmos rótulos, irão provocar instintivamente em nós reacções emocionais… receio, admiração, repulsa, reverência, etc.
Quem não se sentiu já nervoso por ir conhecer os futuros sogros ou intimidado ao ver-se perante o juiz num tribunal, por exemplo…

Na minha opinião, ninguém é melhor ou pior por ser advogado ou caixa de supermercado, cantor ou mestre de obras, médico ou motorista de autocarro… nas relações humanas, e todas as relações entre pessoas o são (entre outras coisas), o que interessa é o âmago de cada um. O respeito e consideração (ou a ausência dos mesmos), deveriam estar, a meu ver, associados á pessoa e não ao rótulo. Qualquer um pode ser um gajo porreiro ou um filho da mãe desgraçado.

A realidade é que, todos aqueles com quem temos de lidar na vida, são acima de tudo “gente”. Comem, dormem e respiram como nós, têm sentimentos, opiniões, assumem posições e terão provavelmente também família e amigos. Somos basicamente todos feitos do mesmo barro…
Se tivermos sempre isso presente, a interacção torna-se muito mais fácil. Seremos muito mais susceptíveis de demonstrar tolerância, compaixão, empatia. Os sentimentos de superioridade/inferioridade, que ás vezes nos tomam de assalto, tornam-se ridículos.

Um orador afirmou que, para não se sentir intimidado pelo seu público, imaginava que a assistência estava toda nua. Não iria a esse ponto.
Acho no entanto um exercício interessante imaginar a pessoa com quem estamos a lidar a tomar o pequeno almoço em pijama ou a lavar os dentes antes de se ir deitar. Vê-la mentalmente na intimidade do seu dia a dia, ajuda a humaniza-la, a pô-la exactamente ao mesmo nível que nós.

Imaginem, por exemplo, o médico que vos vai operar, deitado na cama ao lado da vossa a sofrer de cólicas renais. Ou a super-star que têm de entrevistar, enjoada que nem uma pescada num barco. A empregada doméstica, a fazer em casa dela as mesmas tarefas que fez na vossa. A sogra a fazer respiração de cãozinho cansado enquanto dá à luz a vossa cara metade. And so on…

Os outros têm as mesmas vivências que nós… alegrias e desgostos, problemas e vitórias, desalentos e entusiasmos, independentemente do papel que estejam a interpretar no momento. Se os olharmos nos olhos e virmos a pessoa por detrás do rótulo, se os tratarmos como gente e exigirmos o mesmo tratamento, o desfecho de qualquer encontro será garantidamente muito mais satisfatório. ;)

terça-feira, 9 de março de 2010

Que fazes tu?




Aqui à tempos recebi um mail, de um membro do nosso sitezinho, a informar que tinha começado a dedicar-se à pintura de casas e execução de diversos trabalhos de bricolage…
Achei giro, reencaminhei-o e guardei-o para se um dia precisar dos seus serviços.
Qual não foi o meu espanto, ao  receber um que outro comentário,  em que a ideia de fundo era “isto anda mesmo a saque, até os ex-LF (uma verdadeira elite, como todos sabem…lol)  já andam a pintar paredes…”

Não conheço bem a pessoa em questão, vi-o duas ou três vezes ao vivo e a cores e trocámos algumas palavras no site. Posso evidentemente estar enganada mas, aparenta ser uma pessoa alegre, bem disposta, positiva, em paz com a vida.
Também não sei qual será a sua situação financeira mas, longe de me parecer uma atitude desesperada (a “aviltante” decisão de pintar paredes… credo) senti um verdadeiro gozo pela actividade, mais uma vez posso estar enganada…

A maior parte de nós precisa de trabalhar para viver…
Em termos de “mercado de trabalho” existem dois extremos; os que, por variadíssimas razões, não têm outra hipótese senão agarrar-se ao que vier à rede e aqueles que, tendo-se apaixonado por uma profissão, abraçam uma carreira.
Pelo meio temos variadíssimos tons de cinzento…

Se tivermos em conta que o trabalho ocupa a maior parte do nosso precioso tempo, parece bastante evidente que quanto mais satisfação dele conseguirmos retirar melhor.
Se o nosso “ganha pão” requer esforço constante, se a maior parte dos dias metemos mãos à obra contrariados, sem entusiasmo, se não nos der gozo, não nos desafiar/realizar de alguma forma … então algo está profundamente errado.

A minha empregada saiu recentemente de um casamento desastroso. Necessitando ganhar o seu dinheirinho, foi por opção que decidiu fazer o que faz.  Simplesmente gosta das tarefas domesticas e fá-las com prazer e brio. Anda de cabeça erguida, está-se nas tintas para quem a aponta do dedo e parece bem disposta e satisfeita com a vida.

Todos seremos competentes em algum campo de utilidade profissional. “Diagnosticar” essas competências e apetências e aplica-las a um projecto real, nem sempre é no entanto obvio ou fácil. A realidade é que todos ficarão muito melhor servidos se cada um se conseguir integrar numa área onde se sinta capaz e feliz.
A questão é que, aparentemente, nem toda a gente tem noção disto…

Há uns anos trabalhei numa agência de comunicação. Estava encarregue de toda a parte logística da empresa, assim como da contabilidade corrente, pagamentos e recebimentos, mapas de tesouraria, etc e dava também apoio a alguns projectos.
Basicamente, fazia aquilo que melhor sei fazer; organizar… Para mim é quase uma actividade lúdica, o meu cérebro parece talhado para esse tipo de tarefa. Mesmo sem querer, quando dou por mim já estou a organizar tudo à minha volta. Ou seja, durante uns tempos senti-me bem naquela empresa.
As minhas patroas também pareciam bastante satisfeitas comigo. Na realidade, tão satisfeitas, que acharam que deveria aspirar a um “cargo” de maior relevância, que deveria tornar-me gestora de projecto. Começaram a pressionar-me por não compreenderem a minha falta de “ambição”.  O ambiente tornou-se tão pesado que acabei por me despedir.
Ora se fazia bem o meu trabalho e gostava de o fazer… se elas precisavam de alguém que o fizesse… isto parece-vos fazer algum sentido? Pois…

Há tempos, propuseram-me um negócio de venda de roupas. Pareceu-me uma ideia brilhante, coisas muito giras, muito baratas, atirei-me a ela.
Erro! Oh que grande erro… a realidade é que, se há quem consiga vender areia no deserto, eu  acho que nem água conseguiria vender. Se as pessoas se queixam de falta de dinheiro, ponho-me no lugar delas e não consigo insistir. Se não acedem a vir ver à primeira ou à segunda, sou incapaz de insistir, sinto-me uma chata. Se não se mostram naturalmente inclinadas a comprar, não consigo dar-lhes a volta. Não tenho espírito de vendedora, tudo o que implica vai contra as minhas tendências naturais.

Há coisas que gostamos de fazer ou que fazemos bem, com facilidade, mesmo que não nos dêem um especial  prazer, e outras para as quais simplesmente não fomos talhados. Coisas que a uns saem com naturalidade, para outros são verdadeiras provações mas, como se costuma dizer, há gente para tudo.
As aflições financeiras tendem a toldar-nos o raciocínio e a fazer com que, em desespero, nos abalancemos a actividades condenadas ao fracasso desde o início. Se conseguirmos no entanto ter uma noção dos nossos pontos fortes e fracos, mais facilmente nos iremos encaixar nalguma, seja ela qual for, que nos encha as medidas, que nos faça sentir que aquelas horas do dia não são desperdiçadas.


COM MÚSICA

terça-feira, 2 de março de 2010

Baldes de água fria

COM MÚSICA




Começo por pedir desculpa por esta longa ausência… é difícil arranjar ligação á net no deserto… ;)


O nosso relacionamento com os outros baseia-se em determinados pressupostos. Quando acabamos de conhecer alguém estes ainda não existem, tudo está ainda por descobrir, apesar de podermos eventualmente já possuir algum feed-back de terceiros.
No caso das relações de longa data, sejam de que tipo for, teoricamente “as medidas” já estão tiradas, os principais traços de carácter são claros para nós e agimos em conforme.

Todos temos defeitos e qualidades, características louváveis e outras menos agradáveis, mas sobretudo uma entidade com a qual os outros nos identificam.
Algumas pessoas escolhemos para fazer parte das nossas relações, outras nem por isso. É o caso da família, por exemplo, dos colegas de trabalho, das caras metade dos amigos, etc… Seja por escolha ou obra do destino que entraram nas nossas vidas, se lá estão, gostamos de saber com o que contar.
Olhamos para as pessoas e interagimos com elas com base neste conhecimento. Como tal, as nossas acções e reacções são diferentes consoante o individuo com o qual estivermos a lidar.

Para dar um exemplo concreto e muito simples; como todos sabemos, há quem não tenha qualquer noção de horas e quem seja de uma pontualidade britânica.
Se um dos primeiros chegar atrasado a algum evento é considerado normal, é espectável, ninguém irá estranhar.
Se, por outro lado, o mesmo acontecer com alguém que se enquadre na segunda categoria, irá certamente causar, senão preocupação, pelo menos espanto.
É tudo uma questão de expectativas…

Independentemente de qualquer juízo de valor sobre as características de cada um, esperamos que certas pessoas “sejam” de determinada maneira, simplesmente porque sempre nos deram a entender que assim eram.
Podemos não admirar ou sequer apreciar certos traços de carácter, considera-los negativos, dignos de crítica, condenáveis… mas gostamos de saber “com que linhas nos cozemos”.
Acontece que, volta não volta, levamos com desagradabilíssimos baldes de água fria.
De repente damo-nos conta de que o que parece não é, tomamos consciência de que vivemos uma ilusão… é, ás vezes, uma experiência chocante.

Imaginem, por exemplo, uma mulher que se deixe encantar por um D. Juan e com ele junte trapinhos. Por muito que acredite que este se tenha “reformado” por sua causa, se um dia descobrir que não foi bem assim, só se for muito ingénua é que ficará realmente surpreendida.
Imaginem agora que o cara metade em questão é um tipo certinho, sem evidência de instintos putanheiros, com um passado pacífico. Se por acaso vier a lume que andou alegremente a mijar fora do penico, deixará qualquer uma de cara à banda.
Dir-me-ão que o resultado final é o mesmo; um grande par de cornos… É um facto, mas aposto que não sabem ao mesmo.

Há dias li, algures num blog da nossa praça, que uma amiga da autora se apaixonou por um homossexual, estando absolutamente decidida a fazê-lo mudar de campo… Santa ingenuidade, diria eu, mas está no seu direito e pelo menos sabe o que a casa gasta. Imaginem que “consegue” e um dia chega a casa e dá com ele a apanhar o sabonete na banheira com um amigo … Não me parece bem a mesma coisa do que se for qualquer uma de nós a dar de caras com tal cenário.

Ou outro caso, de uma pessoa que namorou, viveu e mais tarde casou, com outra que não sabia ser toxicodependente. Imaginem o que terá sentido quando começou finalmente a somar dois e dois…

Se estes meus últimos exemplos são de carácter sentimental, eles existem em todas as cores, tamanhos e feitios. 
Podemos relacionar-nos com pessoas com qualquer característica … mas deveríamos pelo menos saber com o que contar. Há coisas que têm um impacto brutal nas nossas vidas, é bom que para elas estejamos preparados, certas descobertas podem abalar os nossos alicerces.

Mas, no meu entender, pior do que a necessidade de reajustarmos as nossas vidas em função do novo pressuposto, mais grave do que os eventuais danos que a nova realidade possa provocar… é a sensação de termos sido ludibriados, de nos terem atirado areia para os olhos ou, pior ainda, de não termos tido o discernimento de apreciar a situação tal como era na realidade.
A verdade é que, na maior parte dos casos, à posteriori nos perguntamos “mas como é que eu não me apercebi disto, estava ali mesmo à minha frente e eu não quis ver…”


segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Travessias do deserto

COM MÚSICA



Não é espectável passarmos pela vida sem uma que outra travessia do deserto, faz parte.

Curiosamente, como dizem os Ingleses when it rains, it pours  e assim, frequentemente, se acumulam dificuldades em vários campos. Questões de saúde, emocionais, económicas, parecem desafiar-se para ver qual nos consegue mais facilmente dar cabo do juízo. Interagem umas com as outras fazendo lembrar a história do pão para acabar o queijo e do queijo para acabar o vinho. Misturam-se ás vezes ao ponto de já não sabermos onde começa uma e acaba outra. Sentimo-nos a lutar com um mar revolto, em que nos é difícil vir à tona para respirar. 



As tristezas, as dificuldades, os problemas podem derrotar-nos ou fortalecer-nos e de nós depende qual será. A nossa atitude perante as adversidades da vida é determinante.

Para começar, é bom que estejamos conscientes da diferença entre ser  e estar  e de que, lá por nos sentirmos infelizes, não quer dizer que sejamos infelizes.
Quanto a mim, a coisa mais importante a ter em conta é que depois da tempestade vem a bonança… como costumo dizer, por cima das nuvens o céu está azul e o sol brilha.
É uma questão de nos resguardarmos tanto quanto possível durante a borrasca e aguentar firme.

É no entanto perfeitamente legítimo que estes períodos difíceis nos afectem. Por muito que tenhamos uma atitude positiva na vida e acreditemos genuinamente que “não há mal que sempre dure”, não sendo feitos de pedra, o sofrimento é por vezes inevitável.
Parece-me tão contraproducente o fazer de conta que não é nada connosco como o afogarmo-nos em queixumes e auto-comiseração.
Assumir a tristeza que carregamos, chorar, desabafar, são atitudes que aligeiram o fardo.

Neste ponto as amizades têm um papel crucial. Quando estamos fragilizados, são elas que nos amparam, que nos provam que não estamos sozinhos.
Costuma dizer-se que os amigos são para as ocasiões… não há, quanto a mim, grandes dúvidas disso. É fácil ser-se “amigo” de alguém quando tudo está bem. É fácil partilhar os prazeres da vida. Quando as coisas dão para o torto é que a porca torce o rabo.

Não é fácil acompanhar o sofrimento alheio. Não é fácil porque não é bonito, não é agradável. Quanto mais gostamos da pessoa em questão mais difícil é, quanto mais próximos estivermos, mais iremos sofrer por empatia.
Também não ajuda o facto de sabermos, consciente ou inconscientemente, que poderemos tentar ajudar mas só ela poderá resolver as suas questões.

Tal como nos afogamentos, o grande perigo é a aflição e o pânico. Tanto o “afogado” como o “banheiro” deverão tentar manter a calma. Como se costuma dizer, de boas intenções está o inferno cheio. É comum que a ânsia de ajudar provoque situações em que é pior a emenda do que o soneto. Então quando se envolvem várias pessoas, muitas vezes cada uma pelo seu lado, a coisa tende a complicar-se.

Os períodos difíceis podem ser longos, ás vezes muito longos, verdadeiras maratonas. Nesses casos o desalento pode ser fatal, o cansaço pode levar à desistência.
O truque é dar um passo de cada vez, não olhar para o topo da montanha para não desanimar pelo que nos resta a subir.
Quando o cansaço for insuportável, podemos boiar, parar de nadar para poupar forças, por as decisões, os actos, os esforços, em stand-by para recuperar o fôlego. Já dizia a Scarlett O’Hara; “I’ll think about it tomorrow”.

Desistir, no entanto, é que não é solução, “If you’re going thru hell, keep going”. Se não fizermos por nós, ninguém conseguirá fazê-lo. Com ajuda, sem ajuda, é preciso ter fé em que tudo se irá resolver, é preciso ter consciência de que as nuvens negras não ficam paradas.

Como dizia o dono do Teatro, no “Shakespeare in love”;
- Tudo se vai resolver!
- Mas como?!
- Não sei, é um mistério!
;)

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Os sois das nossas vidas…

COM MÚSICA

Disclaimer: este saiu um cadinho longo…  se não estão com tempo, façam inversão de marcha e voltem noutra altura. ;)


Criar um filho… tarefa hercúlea… grande responsabilidade…
Mas o que quer isso dizer, afinal?
A meu ver, significa zelar para que cresça forte e saudável e educa-lo. Por educar entenda-se dar-lhe todas as bases possíveis para que possa ser feliz, tanto na infância como na idade adulta.

Acho que esta parte anda a ser descurada por muita gente, cada vez mais me apercebo de que as crianças não andam a ser educadas, é um bocadinho assustador.
Assustador, não pela irritação que estas nos possam causar, mas porque o que vejo, quando observo as crianças birrentas, egoístas, malcriadas, etc que por aí andam,  é uma grande infelicidade…
Se não forem felizes, como poderão fazer outros felizes? E assim se gera um círculo vicioso. Onde irá parar este mundo?

Não me considero, de todo, perita no assunto. Para além disso, acredito que vários caminhos vão dar a Roma, que vários métodos educativos possam conseguir o mesmo objectivo final.
Decidi no entanto partilhar a minha experiência convosco, pois parece-me estar a dar bons resultados. É só mais uma receita…
Estou consciente de algumas falhas que cometi e certa de que mais estarão por vir. Não existindo  manual de instruções, só podemos contar com o nosso bom senso, associado à experimentação. Nem sempre funciona. ;)

Uma das coisas que, noto, falta aos pais actuais, é tempo. Quer-se dizer… tempo têm o mesmo que toda a gente, 24h por dia, dedicam é pouco aos filhos. Alguns não terão escolha, outros talvez façam uma distribuição desequilibrada do mesmo.
Hoje em dia passamos a vida a correr. Pois eu recuso-me a transmitir essa ansiedade constante ao meu filho. De manhã, levanto-me dez minutos mais cedo do que seria necessário, para os poder passar enfiada na cama com ele. Não o acordo a dizer “despacha-te”, dou-lhe festinhas, beijo-o, falamos, brincamos ou ficamos simplesmente na ronha enroscados um no outro.
Algures durante o dia arranjo mais um tempinho para ele, quer seja simplesmente a fazer-lhe companhia enquanto brinca, como a fazer alguma coisa em conjunto. Não é preciso muito tempo, embora ás vezes o seja, mas qualquer quarto de hora/meia hora já lhe enche as medidas.

A minha sobrinha veio cá passar um dia/noite a casa. No regresso disse orgulhosa à mãe; “Em casa da tia Cristina há montes de regras e eu fiz  todas!!!”
Também as há, é um facto, lol, mas aquilo a que ela se estava a referir era ás rotinas.
Não sendo totalmente obcecada ou inflexível, acredito que estas  tragam uma sensação de segurança  ás crianças. A prova é que a piolhita não se queixou, “gabou-se”. Existem horários e tarefas a cumprir no dia a dia, se não for o caso é excepção e não regra.

Quanto a estas… ninguém vive exactamente como gostaria, é bom que se compenetrem cedo disso. “Eu queria…”, também eu queria muita coisa. Vivemos em sociedade e como tal temos de cumprir com as suas regras, temos de respeitar e ter consideração pelo próximo, temos de adquirir os skills  necessários para viver em harmonia com nós próprios mas também com os outros, afinal de contas a nossa liberdade acaba onde começa a deles.
Só para dar um exemplo de regra, mas tantos haveria, nunca o deixei brincar com chaves, telecomandos, telemóveis e afins. Há brinquedos de criança e objectos de adulto, se estes puderem constituir perigo ou estragar-se nas mãos inexperientes de um pimpolho, a meu ver não são simplesmente para lá estar. Não tirei as coisas dos sítios, simplesmente o fiz compreender que não podia mexer-lhes.

A minha avó costumava dizer que não existe “mimo a mais”…
Como, então não existem criancinhas mimadas?!
A meu ver, as crianças não ficam “mimadas”, por excesso de “mimos”, ficam-no porque existem incongruências na sua educação, porque não lhes são óbvios os limites, porque se habituam a exigir e receber tudo, mesmo que não faça qualquer sentido…
Eu cá vou pela minha avó, dou mimo como se não houvesse amanhã. Só é preciso ter em mente a razoabilidade das coisas.
Encho-o constantemente de beijos, de abraços, de carícias, digo-lhe a  toda a hora como o adoro… tenho inclusivamente o cuidado de o fazer sempre que me zango com ele ou o ponho de castigo. Parece-me importante que perceba que o facto de tomar uma atitude que não lhe é agradável não tem nada a ver com falta de amor.
Em termos materiais é igual, só não lhe proporciono o que não posso ou o que acho que não faz sentido ele ter.

Tento que se aperceba de que a vida é como os interruptores, umas vezes para cima, outras vezes para baixo e não há mal nenhum nisso. Cá em casa não há “dramas”, as coisas encaram-se tal como são. Chatices, dificuldades, preocupações, desgostos, são coisas por que todos temos de passar, quer queiramos quer não e ele não será excepção. Explico-lhe a diferença entre o ser e o estar  e que o facto de nos sentirmos infelizes em determinados momentos não quer dizer que sejamos infelizes. Não tento evitar-lhe as agruras da vida mas sim que dê valor ás coisas boas que tem. Tento fazê-lo compreender que, o facto da balança tender mais para o lado positivo, depende muito mais de nós do que as pessoas gostam de reconhecer.

Explico-lhe tudo, respondo a todas as suas questões, dentro da medida da sua compreensão e do meu conhecimento. Desenvolvo os temas, utilizo exemplos e metáforas, ás vezes investigo, falamos muito. Adapto as respostas à sua idade e capacidade de entendimento e, quando isso não é possível, explico-lhe que ainda não tem bases suficientes para que consiga sequer tentar, que mais tarde falaremos sobre o assunto.

Respeito as suas tendências naturais. Não é uma pessoa física, não tento portanto empurra-lo ou força-lo, para além do que é saudável, nesse tipo de actividades. Não acredito que se ganhe gosto pelas coisas por se ser obrigado a fazê-las, antes pelo contrário.
Evidentemente que contrario um bocado as suas vontades pois, por si, passaria os dias dentro de casa, a brincar ou afundado no sofá em frente à televisão. Tento que não leve uma vida demasiado sedentária.  Mas não o obrigo a praticar desporto ou sequer a andar de skate ou bicicleta se não estiver para aí virado. Se, no entanto, mostrar algum interesse, tento estimular e ajudar, no que estiver ao meu alcance.

Em contrapartida, sendo ele todo cerebral (o que, aqui entre nós e como poderão compreender, para mim é ouro sobre azul…lol) puxo por ele sem dó nem piedade. ;) Se é para o “meu desporto” que é dotado, tem aqui um treinador empenhado e exigente.
Jogo imenso com ele, por exemplo, todo o tipo de jogos, em todo o lado… no carro, na praia, em casa… jogos de palavras, de cartas, de tabuleiro… Encaro o jogo como uma ferramenta formativa sem igual, em termos de desenvolvimento cerebral, dele retiramos lições importantíssimas.
Cá em casa não há abébias, ninguém faz batota e os meninos não ganham só porque são pequeninos. Jogam-se jogos adaptados à sua idade, como tal que se façam á vida como os outros. Umas vezes ganham, outras perdem, é natural.
Isto permite-lhes aprender, através de uma actividade lúdica, a lidar com a frustração, a conseguir objectivos, a desenvolver estratégias, a perceber que existe um factor sorte e um factor raciocínio em tudo o que fazemos, a empenhar-se para ganhar… porque no fundo, ninguém gosta de perder.

Apesar de todo o esforço que dirijo no sentido de fazer do meu filho um ser humano intrinsecamente feliz, apesar de o considerar a pessoa mais importante da minha vida, sem qualquer sombra de dúvida, estou perfeitamente consciente de que também eu tenho vida. Não me anulo por ele, tento sempre coordenar interesses, fazer com que as coisas sejam equilibradas.

Várias razões me levam a crer que estou no bom caminho…
O Pedro é um menino que não tem pesadelos, por exemplo. Oh, como me lembro da angústia dos pesadelos da minha infância… Contam-se pelos dedos de uma mão os que ele me reportou desde que nasceu.
Não faz birras, essas contam-se pelos dedos da outra mão. Fica chateado, claro está, fica contrariado, um bocadinho “de trombas” ás vezes, mas “cenas” não há.
Aceita a autoridade sem revolta, questionando-a pontualmente, pedindo ás vezes justificação para as coisas, o que não me parece senão saudável.
Apesar de tímido, depois de ultrapassada a primeira barreira, é uma pessoa sociável e bem educada.
Tem capacidade de concentração, quando se interessa pelas coisas, não dispersa.
Aceita serenamente as diferenças, as suas e as dos outros.
É basicamente uma criança alegre e sorridente.
Estou consciente de que fases mais complicadas virão, de que a adolescência não é pêra doce.

Não acho que seja perfeito, ninguém é. Consigo inclusivamente identificar características que não o irão favorecer na vida, há que lhe fornecer as ferramentas para as trabalhar. Mas sinto nitidamente que, com a minha ajuda, tem muito mais hipóteses de sucesso. Educar não é treinar, como se faz aos cães, é ensinar a pescar… ;)

sábado, 23 de janeiro de 2010

Missy is missing...

COM MÚSICA



Estou num momento de crise, de pequena crise, felizmente, mas que não deixa de o ser pelo seu “tamanho”…
A minha gata desapareceu há duas noites.
Tudo verdade… é o quinto gato em pouco mais de quatro anos a fazer-me passar por este tormento.
Os que não gostam de animais, passam  a partir de agora a ler este post com condescendência… os outros percebem o que quero dizer. Explicar, acho que não é possível…

O que aconteceu? Não sei… Quanto a mim entrou no cio a meio da noite e, não obtendo  as atenções desejadas do Castrati cá de casa, fez-se à vida a ver se teria mais sorte lá fora.
A partir daí, tudo é possível. Pode andar a divertir-se com os gatos das obras e volta-me para casa um bocadinho mais cheia. Mas também lhe podem ter acontecido todas as coisas a que se arrisca um gato que anda na rua… pode ter sido roubada, atropelada, morta por cães… infelizmente não seria inédito.

Devo dizer que eu não tenho sorte nenhuma com os gatos desde que vim para esta casa. Bem sei que ter gatos em apartamento ou numa moradia é completamente diferente. Mesmo assim, só para dar um exemplo, a minha irmã tem o mesmo casal de gatos há mais de cinco anos e nunca lhes aconteceu nada.

Dito isto, para os que ainda não tenham percebido, para mim bicho é bicho, homem é homem, e não há que confundir… Tempos houve em que era um bocado diferente, em que  tinham um papel muito mais importante na minha vida emocional.  Depois nasceu o meu filho... julgo que os animais ás vezes sirvam um bocado de substitutos para eles.
No entanto, quando acolho um animal em casa, passa sem dúvida a fazer parte da família. Partilha as nossas rotinas, o nosso carinho, a vai ganhando um espacinho no nosso coração.  Quando desaparece das nossas vidas fica um vazio.

Como julgo já ter referido aqui, prefiro pegas de caras a pegas de cernelha logo, esta coisa de não ver o meu problema de frente, causa-me bastante angústia e desconforto. Se soubesse o que tinha acontecido ao raio da gata, poderia começar a tomar medidas para ultrapassar a situação. Poderia processa-la psicologicamente por forma a minimizar, dentro  da medida do possível, o sofrimento.
Mas não sei se amanhã acordo e a #%$&## da gata não estará à porta do meu quarto a exigir comida. Se alguém me irá telefonar a dizer que encontrou o seu corpo. Se estará neste momento a comer carapaus na cozinha de uma velha do Linhó.
Ou seja, perante o facto de que a minha gata não está neste momento comigo e há um buraco onde antes estava a sua presença, não sei como reagir.

Se temos uma relação afectiva com o ser em questão, não podemos evitar ficar tristes com a situação. Não podemos, nem devemos, na minha humilde opinião… se não tivermos a capacidade de sofrer também nos tornaremos insensíveis ao reverso da medalha. São coisas que acontecem na vida, os sustos e os desgostos fazem parte do percurso, é mesmo assim.

Por outro lado a nossa imaginação, extremamente útil para arranjarmos formas de tentar recupera-los, também tem uma certa tendência a atormentar-nos com what ifs
Dado que somos tendencialmente pessimistas por natureza, são mais os cenários negros que nos vêm à cabeça do que os  happy endings

Há no entanto que ter atenção para que não descambe… para isso, tenho vários truques…

Para começar, há que tomar rédeas à situação no sentido de deixar a minha consciência totalmente tranquila, tomar todas as medidas possíveis para tentar resolver a coisa, fazer tudo o que esteja ao meu alcance.

Depois é cortar as vazas á tal imaginação… se vejo que estou a começar a ir por um caminho que me levará a cenários que me vão fazer sofrer, como seja imaginar o próprio bicho em sofrimento, mudo imediatamente “de assunto”. Proíbo o meu cérebro de continuar a ir nesse sentido, obrigo-me a pensar noutra coisa.

O facto de identificar exactamente em que galho está cada macaco também ajuda. Adoro a minha gata, mas é só uma gata, não é o meu filho. Relativizemos… por muita falta que me vá fazer se desaparecer da minha vida, não é exactamente o fim do mundo.

Finalmente, nesta situação concreta, em que ainda há esperança, ponho as expectativas em pausa.
Não se pode fazer luto, o tão importante luto que fazemos de tudo aquilo que perdemos, sem que haja certezas. Também não nos devemos meter na cabeça que tudo vai correr bem porque, se não correr, caímos de mais alto.
Viajo então até a um limbo onde me recuso a lidar emocionalmente com o assunto. Se não houver desenvolvimentos entretanto, o tempo faz milagres, traz-nos de lá e ajuda-nos a lidar com a dor, de uma forma ou de outra.

Dir-me-ão que estou a racionalizar muito, que esta conversa é toda muito bonita mas que estou “na fossa” na mesma…
Olhem que não, olhem que não… muita gente se martiriza e em situações idênticas, sofre muito mais do que o “absolutamente necessário”…
Que será, será… and life goes on. ;)

sábado, 16 de janeiro de 2010

Happy Birthday

COM MÚSICA



Faz hoje 3 anos que comecei a debitar cumbersa para este blog… 144 posts!!!
Bem gostava de saber onde vou buscar tanto paleio… lol

Requer perseverança… ás vezes tenho a tentação de desistir, confesso.
Requer disciplina… faço um esforço para escrever todas as semanas.
Requer inspiração… nem sempre a tenho.
Requer assunto… o que nem sempre é fácil de arranjar.
Requer muitas revisões… tentando não dar azo a más interpretações.
Requer tempo… que tantas vezes roubo a outras coisas.
Acima de tudo, requer muita dedicação…

Há bem pouco tempo um amigo comentou; “Espanta-me que digas que “enquanto houver alguém a ler"... mas tu não chegas ? Ou não lês o que escreves ? Eu entendo a tua escrita, também como um acto de arrumares as tuas ideias.”

Pois bem, os meus posts são sem dúvida também uma forma de arrumar ideias… Muitas vezes é ao verbaliza-las que nos damos conta de que as pensamos.
Mas não, eu não chego… porque se escrevesse para mim as coisas não saíam do meu computador, que sentido faria coloca-las online?

Mantenho um blog, basicamente, porque sou uma presunçosa de merda, que acha que aquilo que tem a dizer pode interessar a terceiros… lol

Obrigada a todos os que justificam que aqui continue a escrever… ;)