domingo, 11 de janeiro de 2009

No Happy Ending

COM MÚSICA

Morreu a minha gatinha…

Há três dias não voltou para casa do seu passeio, fiquei preocupada…
Ter gatos numa moradia não tem nada a ver com ter gatos num apartamento.
Tenho tido sempre gatos nos últimos 25 anos e nunca me preocupei tanto com eles como desde que me mudei.
Não é possível fechar um gato em casa numa moradia, logo estes agora vivem em liberdade, entram e saem quando querem, vão caçar, dar as suas voltinhas.

Os dois primeiros, que trouxe de Lisboa, desapareceram ao fim do primeiro mês, fugiram, julgo que possam ter tentado “voltar para casa”, os gatos são muito territoriais, não gostam de mudanças. Nunca mais os vi nem soube nada deles, apesar de ter feito tudo o que estava ao meu alcance…
Outra que tive a seguir foi morta com um tiro de pressão de ar. Veio morrer à nossa porta… Na zona há um senhor com muito mau feitio, daqueles que faz a vida negra à vizinhança… Tem um pombal… tem uma pressão de ar… dois e dois são quatro.


Gatos que andam à solta estão sujeitos a ser atropelados, roubados, a sofrer acidentes… Estou consciente de que os meus, desde que me mudei, estão constantemente em risco de não voltar para casa.
É, confesso, um pouco angustiante para mim…
Mas acho que é uma angústia saudável, se é que isso é possível, na medida em que a encaro como treino para quando o meu filho começar a voar para fora do ninho.
Imagino, só imagino, o que possam ser os primeiros tempos em que os nossos rebentos “vão para a noite”…
A realidade é que não os podemos ter sempre debaixo da nossa asa e um dia teremos de confrontar a dura realidade de que já não os podemos proteger, que irão passar por situações de potencial risco sem que estejamos ao lado.

É assim que encaro a liberdade dos meus gatos e cada vez tenho conseguido lidar melhor com ela, espero que se passe o mesmo quando chegar a altura do meu filho.
Acredito que estes gatos sejam mais felizes do que os que tinha em apartamento…
Todos os gatos que alguma vez tive foram tratados como reis, com tudo a que tinham direito, mimados, mas estes parecem mais em forma, mais serenos, mais dignos.
Digamos que sou ainda menos “dona” deles, são mais gato, mais felinos.
Se cá vivem é porque querem, porque me adoptaram (julgavam que tinha sido eu a adopta-los a eles?! Estam muito enganados, com os gatos não funciona assim. ), porque apreciam a minha companhia.
E evidentemente porque lhes dou de comer… lol


Não tenho portanto qualquer amargura quanto a estes desfechos… não sinto qualquer problema de consciência, não acho que devesse ter outra postura.
Estes gatos vivem uma vida perfeita, em que têm ocasião de ser gatos com G grande, daqueles que nos trazem lagartos e pássaros para dentro de casa, daqueles que sobem às árvores, que perseguem borboletas no jardim.
Ao mesmo tempo têm todas as mordomias do “gato caseiro".
Eles entram e saem quando querem… mas atenção, não são de todo “gatos de rua”… se está a chover, não querem… se está muito frio, não querem… se está próximo da hora de comer, não querem… e para dormir, é na caminha deles.


A gata que agora morreu, viveu portanto como uma gata feliz. ; )
Era uma gata fantástica…
Para começar, era a gata mais bonita que alguma vez tive.
Não que isso faça alguma diferença para mim… mas… se o maridinho carinhoso, atencioso, amoroso, puder ter a cara do Brad Pitt, a malta também não vai reclamar, não é verdade?!
Depois era dos gatos que tive, que mais laços criou comigo, era sem dúvida uma das minhas preferidas.
Esta é a parte boa dos gatos em relação aos filhos… não só uma pessoa pode perfeitamente ter favoritos, como pode afirma-lo em voz alta. lol
Esta, dos 14 gatos que já tive em toda a minha vida, estava sem qualquer sombra de dúvida no top 3.


Fiquei muito ansiosa quando desapareceu.
Disse para mim própria aquilo que costumo “vender” aos outros… “que a grande maioria das coisas de que temos medo não chega a acontecer…” e fui-me agarrando a essa.
Enviei um mail com uma foto dela aos vizinhos e pedi-lhes para ficarem atentos.
Dei uma volta pelo quarteirão à procura dela, de que hoje, sabendo o que sei, bem me arrependo pois ainda lhe estou a pagar o preço.
Levei estupidamente a minha cadela comigo, sem me lembrar de que estava com o cio. Quando cheguei à ponta da rua já ia com três cães atrás, com os respectivos focinhos enfiados no rabo dela.
Um deles, criaturinha tenaz, não largou a nossa porta durante mais de 24h e prendou-nos com várias mijas de marcação de território na porta da frente.



Não tive qualquer sucesso.
A gata não aparecia nem ninguém sabia nada dela.
Para além de estar triste, muito triste, saltava com qualquer barulhinho, ia ver se era ela, até já imaginava barulhos. Passava o tempo todo a pensar no que poderia fazer mais. Se haveria algum sítio onde não tivesse procurado, algum sítio onde pudesse estar presa.
As noites, como todos já devem ter vagamente reparado, não andam própriamente quentes… aqui têm andado ligeiramente negativas.
Imaginava a minha menina ao frio, a ter de se abrigar da chuva, potencialmente ferida. Imaginava muita coisa, que a imaginação é uma coisa muito fértil…


Isto é das piores coisas que me podem acontecer… não saber!!!
Sou, modéstia à parte, mas os que me conhecem sabem que é verdade, francamente boa a lidar com situações difíceis, dolorosas, tenho grande mestria dos meus sentimentos.
Mas sou PÉSSIMA a enfrentar o desconhecido…
Se pensarem bem, faz algum sentido… já viram algum filme de terror em que o bicho/serial killer/monstro/whatever é mostrado nitidamente ?!
O medo nos filmes de terror é nos induzido pela nossa imaginação que eles estimulam levantando muito vagamente a ponta do véu.


No dia seguinte organizámos uma equipa de salvamento…
O meu coração estava tão quentinho… nestas alturas se vê como são as pessoas e houve várias a dar apoio, algumas ao ponto de se deslocarem até cá.
Fizemos uma busca à gata… sempre com o rafeiroso horny atrás de mim…deve ter achado que já que não papava a filha podia tentar a sorte com a mãe. lol
E no primeiro sítio onde as crianças foram colocar um cartaz, uma velhota reconheceu a gata.
Tinha sido morta por cães…
A fantástica aventura da procura da gata, que 7 crianças levaram a peito, em que se empenharam, não acabou num Happy Ending. : (
Voltámos para casa desanimados, com uma coleira na mão…
No momento em que soube o que tinha acontecido caiu-me o coração aos pés.
Felizmente, e o acaso (ou talvez não…) tem destas coisas, tinha nesse momento à frente uma loura de olhos de corsa. Uma loura que há poucos meses perdeu o seu amor, e estava ali aflita comigo à procura da minha gata…
Nesse momento, tudo se relativizou… aquilo, afinal de contas, era SÓ uma gata.
Desde aí, quando volta a tristeza, penso nisso, penso noutra amiga que está a viver momentos verdadeiramente dramáticos e a aguentar-se que nem uma leoa, no rapaz que perdeu a filha, no tormento de uns primos este verão com o filho recém nascido vários meses entre a vida e a morte… e o meu coração repete “era só uma gata…”


E como sou uma rapariga das que botam a bola para a frente… já encomendei outra.
Outra da mesma raça, da mesma criadora, quem sabe irmã… estes gatos só me têm trazido alegrias. Morrem?! Nós também…
Um animal não poderá nunca ser substituído mas, o “pelo de um cão cura a dentada de outro cão”, rei morto, rei posto, nestes casos é a minha filosofia.
Acabei de ter um desgosto, não vou ficar a remoe-lo, não vou ficar a carpir numa de self pitty, agora tenho direito a uma alegria… e os que gostam de gatos sabem que não há maior alegria do que ter um gatinho bébé em casa. ; )


The show must go on! ; )


8 comentários:

  1. ja conversamos
    mas gostei de te ler

    so que nao era desta gata que me lembrava !

    estranho

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  2. Já não sei onde é que li e depois escrevi que a diferença entre ter um cão e ter um gato é que quem tem cão é dono de cão, quem tem gato é o contrário.

    Ela era linda, independente e verdadeiramente uma fêmea. Talvez estes 3 motivos tenham sido os responsáveis pelo fim que levou.

    Lá se foi uma das sete vidas dela. Agora foi viver as outras seis, uma de cada vez, para outros lados quaisquer, dona do seu nariz.

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  3. Não era SÓ uma gata, era a TUA gata. Podemos sempre fazer o nosso exercício mental de que a nossa dor, não é nada se comparada com a de A, B ou C... é saudável, mas às vezes também podemos mandar lixar o mundo e sem self pitty, darmo-nos o direito à nossa dor, é humano.

    Mas fico muito feliz por saber a forma como estás a encarar a situação, é assim mesmo!

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  4. Depois da mensagem que me deixaste vi aqui ler o teu texto/contributo e gostei muito da tua força e maneira de encarar "A Vida".
    Desejo-te muito boa sorte com a nova aquisição quando ela vier, e que sejas tão feliz como eras com esta! - Vai dando notícias!
    Se precisares de alguma coisa, é só dizer!
    Anne Catherine

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  5. Happy endings também têm um não sei quê de virtual! Como o da tua gata, que continuas sem saber como acabou. Se é que acabou! Só tens a palavra da senhora que te entregou a coleira. Não há nada que te diga que não foi "adoptada" para outras paragens. Não me apetece entrar em pormenores, mas, para mim, a história está mal contada. O anúncio duma morte transforma a coisa em definitiva, como uma mentira piedosa com que tu vais poder dar o salto para outra.

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  6. ZP... percebo perfeitamente o que queres dizer... e tens razão, como me costumava dizer uma pessoa "há sempre a hipótese do anjo"...

    É certo que existe uma vaga hipótese de alguém se ter abarbatado à minha gata e me ter entregue a coleira (que era de facto a dela) ao mesmo tempo que me dava a cantiga do bandido... É um facto.

    Mas também é um facto que as antenas das pessoas não servem só para usar chapéu (até porque fica muito alto) e todos nós (ousando falar pelos outros todos) ficámos com a sensação de que os velhotes nos estavam a contar a história tal como ela se passou.

    Para além de "sentirmos" isso, cada um nos contou a história separadamente e os detalhes batiam todos certos...

    A minha menina está morta, sim, teve uma morte cruel e horrível, sim...
    Acontece... é duro de encaixar... mas acontece...

    Mas teve uma boa vida, e, por muito violenta que tenha sido, uma morte relativamente rápida.
    Antes isso do que uma doença prolongada, sofrimento constante, perda de capacidades, de dignidade...

    Passei por isso no fim, com a minha gata que viveu quase 18 anos (!!!), e digo-te... não sei se custa menos.

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  7. tenho pensado na tua gatinha todas as manhãs e olho para a foto da Miminha que está no meu quarto e peço-lhe que a tua gatinha te proteja a ti e aos teus. Eu acredito nesses laços.
    um beijinho amigo,
    vera

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