terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Quero, posso e mando...

COM MÚSICA

Viver não é fácil e requer aprendizagem.
Ao longo da vida somos confrontados com situações com as quais não é óbvio lidar e muito menos ainda se para elas não estivermos minimamente bem preparados.
A menos que sejamos eremitas, teremos de nos enquadrar numa sociedade, seja ela qual fôr, e viver segundo as suas regras.
Um bom relacionamento com “os outros” é portanto fundamental para o nosso próprio bem estar.
Acredito que o ser humano seja por natureza egoísta e egocêntrico, características que convém na minha opinião controlar, senão mesmo erradicar, se quisermos viver em paz de espírito.

Ora visto que ninguém nasce ensinado, é (também) para isso que servem os pais.
Tal como no reino animal, somos supostos proteger e alimentar os nossos filhotes mas igualmente ensina-los para que um dia possam seguir as suas vidas independentes.
Cada um faz o que pode e a mais não é obrigado, mas confesso que me aflige a maneira como, cada vez mais, os pais parecem alheados desta última função.
Não irei sequer mencionar os pais ausentes, seja por que razão fôr, porque aí então é que dava mesmo pano para mangas.
Fixando-me nos pais efectivos, activos, empenhados, “caring” (palavra para a qual nunca consegui encontrar tradução satisfatória para português e que acho faz tanta falta…) observo lacunas de bradar aos céus… e assusto-me.

Assusto-me por várias razões…
Para começar temo um dia não ter autocontrole suficiente para evitar mandar um monstrinho dessas produções pela janela…
Ok… agora a sério… lol
Assusto-me porque essas crianças, mal preparadas para a vida em sociedade, serão os adultos de amanhã. Pergunto-me que raio de sociedade será essa então. Como irá funcionar ou mesmo se irá funcionar.
Assusto-me porque não os vejo como sendo crianças felizes. Embora aparentemente tenham tudo para o serem, a realidade é que o que transparece constantemente é ansiedade, frustração, cólera, revolta, parecem permanentemente insatisfeitas, incapazes de aceitar serenamente as regras mais básicas,.

A coisa começa com a chamada “boa educação”… bom dia, boa noite, se faz favor, muito obrigado, são expressões que não pertencem ao seu vocabulário.
Como se costuma dizer, de pequenino se torce o pepino, e se os pais estão à espera que estas coisas lhes saiam espontaneamente da boca quando chegarem à idade adulta, estão a meu ver muito enganados.
O que é espantoso é que esses mesmos pais são frequentemente eles próprios extremamente educados, não é portanto por falta de conhecimento de causa.
Confessaram-me um dia, quando comentei o assunto, que não “obrigavam” os filhos a dizer essas coisas porque os pais os tinham obrigado a eles e eles odiavam ter de o fazer… Daaaaaah
Muitas das crianças de hoje em dia não pedem as coisas, exigem-nas. Não agradecem o que se lhes dá. Não cumprimentam quando chegam. Não se despedem quando partem. Não têm “modos” à mesa. Levantam-se a meio das refeições. Yada, yada, yada…

Por outro lado acho que o politicamente correcto está de tal forma a invadir a sociedade que as pessoas já têm medo de “reprimir” seja o que fôr, até as coisas que deveriam, a meu ver, ser efectivamente reprimidas, como sejam por exemplo os ataques de cólera, de egoísmo, de teimosia, de inveja… As criancinhas não podem ser “traumatizadas”, a utilização da autoridade parental é considerada uma violação da liberdade individual. Se os meninos querem fazer uma birra há que respeitar, estão no seu direito. Não sei onde foi parar “a minha liberdade acaba onde começa a dos outros”…

Já ouviram falar num par de galhetas? Empregues no devido momento nunca fizeram mal a ninguém e pelo menos em Portugal, felizmente, ainda não nos retiram os filhos só por causa disso. Mas isto sou eu a falar, que sou apologista da palmadinha no rabo quando necessário e a realidade é que desde que eles saibam que existe, em geral nem chega a ser preciso emprega-la, basta que paire por cima das suas cabecitas.
Até concebo no entanto que nunca se use, eu não soube empregar o método Gandhi e o meu filho levou umas quantas até perceber que o melhor era não fazer por leva-las. Hoje em dia basta-me abrir-lhe os olhos que faz o mesmo efeito. É o chamado reflexo de Pavlov… ; )

A utilização de “castigos”, pelo menos, parece-me inevitável… de alguma forma eles têm de aprender o que podem e não podem fazer, onde estão os limites.
Recordo-me de uma cena que aconteceu quando eu própria era ainda miúda.
O filho, de cerca de dois anos, de uns amigos da minha mãe deu uma dentada na bochecha do irmão de quatro que quase lha ia arrancando… O pai, furioso, pegou no miúdo e levou-o para o quarto. Da sala ouvi-mo-lo dizer “Agora ficas aqui, feio, estás de castigo!!!” Quando voltou o puto vinha atrás dele. Ao ver os nossos olhares de espanto o pai virou-se… “Eu não te disse que estavas de castigo?!”- “Mas eu não quélo…” E pronto, como a criancinha não quelia, o pai encolheu os ombros e continuou a andar.
Não chegando a este extremo, tantas vezes tenho assistido a atitudes do género, em que não há firmeza, em que os putos ficam de facto com a sensação que podem fazer o que querem.

Tenho a sensação de que se está a passar dos tempos em que os pais diziam não aos filhos, para uma época em que são os filhos a dizer não aos pais.
A vontade e os desejos deles parecem ás vezes ter mais peso do que o bom senso…
Parece que os pais autoritários e prepotentes foram substituídos por pais permissivos e condescendentes… venha o diabo e escolha.

A autoridade parental tem o seu propósito, parece-me importante que, pelo menos até atingirem uma certa independência, os filhos obedeçam aos pais, incondicionalmente, porque só assim os poderemos proteger.
Se uma criança se dirigir inconscientemente para a estrada é bom que à ordem dos pais “pára”, ela pare de facto, sob risco de ser atropelada. Nem sempre é possível agir fisicamente, se não houver autoridade não há “controlo remoto”.
Hoje em dia observo que isto cada vez menos acontece, os putos estão-se nas tintas para as “ordens” que se lhes dá.

Notem que não sou de todo defensora dos pais tiranos do antigamente. Não subscrevo o “sim, porque sim , o não, porque não” em todas as situações. Sou apologista da explicação das coisas. Mas tudo isto com os devidos limites.
A realidade é que acho que as crianças não podem ter sempre a sua palavra a dizer. Ás vezes as coisas devem ser como nós dizemos porque é o que faz sentido.

Se a infância é tempo de brincadeiras, de inconsciência, de desenvolvimento, de aprendizagem… é também quando se criam os alicerces para a idade adulta. Se uma construção tiver fundações defeituosas arrisca-se a desmoronar. Como pais temos, na minha opinião, a obrigação de encaminhar essa fase tão importante.

As crianças precisam de guias, de estrutura, de sentir que alguém está de facto “in charge”, sob pena de se sentirem inseguras.
Os pais são o comandante do barco, aqueles que supostamente sabem o que estão a fazer, que impedem que este ande à deriva e em quem os grumetes confiam para resolver as situações. Se a sua autoridade é constantemente posta em causa nada funciona.

É duro ás vezes educar uma criança. As regras que lhes impomos, os castigos que lhes aplicamos, custam-nos ás vezes mais a nós do que a eles. Eles sofrem pontualmente com isso e não há pior para um pai do que ver um filho a sofrer. Mas esse sofrimento não é gratuito, é um investimento no futuro, serve um propósito e é isso que nos deve motivar.

Por outro lado não somos infalíveis. Vamos com certeza errar muitas vezes. O que funciona com uma criança pode não funcionar com outra. As nossas teorias nem sempre são possíveis de pôr em prática. É tudo uma questão de experimentação. Ás vezes é possível recuperar a merda que se fez, outras é mais difícil. Mas o que acho de facto importante é que se tenha a consciência tranquila de ter tentado de facto cumprir com o nosso papel.


4 comentários:

  1. Subscrevo e assino!

    Prefiro dar um não justo ao meu crianço do que um sim injusto. O meu não é dito com amor, mas amanhã a sociedade vai-lhe dizer, (espero que não) muitos nãos e ele vai ter de estar preparado para lidar com as suas frustrações. Estou convencida de que dizer sim a tudo e/ou nãos pouco convictos, os niins, não os prepara.

    E também não tenho pachorra para miúdos que não dizem um se faz favor, obrigado, bom dia… pensava que era eu que estava bota-de-elástico. A culpa não é das crianças, mas são eles que acabam por levar com adultos como eu, que quando a coisa me faz pés de galinha, vou dizendo na vez da criança o sff, obrigada...

    ResponderEliminar
  2. A minha mãe era beirã, filha e irmã de professoras, todas com a mão leve e eu levei muitos pares de galhetas. Até chegar ao metro e 80 e começar a rir delas. Mas não é por isso que sou mais educadinho.
    Eu só encanzino com miúdos teimosos. E não quero saber de quem são filhos. De resto, miúdos que dizem a tudo que sim, pedem por favor e desculpa, eu tenho tendência a desconfiar deles. Ali, há gato. E por falar disso, não são só os putos a quem falta educação: há muitos pets a pedir uns chutos.

    ResponderEliminar
  3. Pois é, tiras-me as palavrinhas da mente.
    Diariamente, enquanto espero pelo meu filho à saída das aulas dou por mim a ter de controlar as minhas expressões faciais e a fazer um esforço para não me meter onde não sou chamada. Vejo cenas entre pais e filhos, mais entre mães e filhos, que me dão vontade de dar um berro ao filho e uma galheta à mãe... Contenho-me, por todas as razões e mais uma: a galheta na mãe será provavelmente dada pelo filho quando este for adolescente, e o berro ao filho iria oferecer de bandeja mais uma vitória desse comportamento arrogante, quando a mãe ofendida mostrasse as garras na defesa do seu bebé.
    A gaita toda é que o meu filho, que até é um tipo sensível e que considera "o outro", vai ter de crescer no meio desse modus vivendi que só se enfrenta com experiência e maturidade, que se conquistam à custa de resistir a muitos sentimentos de injustiça.
    C’est la vie...

    ResponderEliminar
  4. Sódadinhas de te ler....Isto de ter 4 ( +2 sobrinhos) em casa sempre comigo durante 15 dias não deu para vir aqui....
    Uma "berlaitada" ou galheta ou açoite no rabo na altura certa,ou um NÃO nunca fez mal a ninguém... Por acaso hoje a mais nova foi comigo ao Supermercado e ficou sentada no chão sózinha enquanto eu fui fazer o resto das compras... É lógico que parou a fita ( não dou azo a isso) e veio atrás de mim sem tugir nem mugir....

    Agora quem diz que educar é fácil engana-se redondamente...É muito mais fácil dizer que sim a tudo do que educar.....
    Beijinhos Grandes

    ResponderEliminar