quarta-feira, 17 de julho de 2019

BYE, BYE, BEN




      Conheci o Ben, há 11 anos, através da rede de antigos alunos do Liceu Francês.
   Entrou a matar… veni, vidi, vici, rapidamente se tornando um dos membros mais activos, participando em tudo quanto era evento, grupo, discussão no fórum, votações, etc… Ajudou a moldar aquilo que foi o nosso Ning. Conquistou a simpatia de uma data de gente, de várias idades. Reatou relações com ex-colegas que não via há décadas.
   Esta enorme presença deveu-se, essencialmente, à distância. Na altura em que apareceu o site, o Ben estava a viver em Luanda, sentia-se sozinho, tinha saudades de casa, para ele foi ouro sobre azul.
   Achei-lhe graça, com o seu magnifico bigode do antigamente e o seu feitio intempestivo. Tenho respeito por “pelo na venta”, gosto de pessoas com caracter, coerentes, directas. Dei-lhe trela…
   O que eu fui fazer!!! Rapidamente começou a assediar-me pelo Skype.
   Estou a brincar quanto ao assediar, tinha muito gosto em falar com ele. Às tantas, começámos a fazê-lo numa base quase diária. Parecíamos duas BFFs, a partilhar as nossas experiências do dia, a fofocar, a cortar na casaca, a queixarmo-nos da porca da vida ou a rir a bandeiras despregadas dos nossos próprios disparates. Passámos por situações absolutamente caricatas, por momentos de cumplicidade, de tristeza, de aflição, de alegria… e tudo fomos partilhando em directo, na maior parte do tempo, mas não só, graças à internet. 
   O Ben nunca foi bom a dar-se conta de quando estava a ser invasivo. Se, por acaso, por um período mais longo, eu não conseguia falar com ele, ficava amuado, fazia birrinha, punia-me com “silent treatment” durante uns tempos. Eu acho que o nosso Ben era um menino um bocadinho mimado. Ainda nos pegámos, à séria, uma vez que outra, por causa disto.
   Por outro lado, apanhei um que outro susto, quando ia para zonas de conflito armado. Dizia que ia ficar incontactável durante uns quantos dias e, ás vezes, ao fim desse tempo não dava sinais de vida. Suei umas quantas vezes.
   Ao longo destes últimos onze anos, o Ben apoiou-me, ajudou-me, divertiu-me, fez-me surpresas, mexeu-me com os nervos, enterneceu-me, ensinou-me, esteve lá… esteve lá como só um amigo com A grande está.
   Não conheci de todo o Benjamim Formigo piloto de helicóptero, herói da guerra, já estava muito para trás quando nos encontrámos. Soube de uma que outra história.
   O Benjamim Formigo jornalista conheci-o um pouco porque lhe criei e alimentei um blog, dado que era demasiado calão para querer aprender a fazê-lo ele próprio. Para quê chatear-se, se lhe bastava olhar de baixo para cima, com aqueles olhões azuis e ar de Coker Spaniel e pedir com jeitinho…
   O Benjamim ser humano, conheci-o bem. Não conheci, certamente, o mesmo Ben que outros conheceram, cada um de nós tem um eu diferente para cada relacionamento, para cada papel, mas conheci bem o meu Ben. Era um homem colérico, irrascível, indomável, mas era tudo fogo-de-vista. Sabendo dar-lhe a volta, descobríamos que era na realidade um doce. Era deixá-lo ladrar para os pneus, conscientes de ser um cão fiel e amigo. E se conheci alguém com uma profunda noção de amizade , foi o meu grande amigo Benjamim Formigo.
   Vai fazer-me falta. Já me está a fazer falta. Acho que vai fazer falta a uma data de gente. O mundo precisa de Benjamins Formigos, era um homem bom,  com um coração do tamanho do mundo.
   Há muitos anos, em conversa da treta, fez-me prometer que, no seu funeral, poria a tocar o “My Way”. Hoje, cumpri a minha promessa, despedimo-nos dele ao som de Frank Sinatra.
   Bye, bye, blue eyes…
  

FRANK SINATRA - MY WAY
                                                                    

1 comentário:

  1. Trabalhei no jornal EXPRESSO, lá conheci o BEN. Embora não sendo jornalista, acabei por fazer trabalhos com ele. Ganhei uma grande admiração pela pessoa que bebia muito café pela sua caneca inseparável, fumava cachimbo perfumado e conversava de forma cativante, admirável!
    Periodicamente, falávamos (ou ao telefone ou almoçávamos).
    Aquando da reconstrução da casa da Igrejinha (onde fui várias vezes), eu trabalhava nos mármores do Alentejo. Das nossas conversas resultou a montagem do painel em mármore que se encontra instalado na entrada da sua casa.
    Um belo dia pediu-me ajuda para apresentar um estudo ao dono de um grupo empresarial em Angola. Acabei por aterrar em Luanda no dia 2 de Fevereiro de 2010, onde, sob orientação do BEN, fizemos o levantamento e apresentamos os relatórios.
    Gostava imenso que eu cozinhasse para ele. Apercebi-me que gostava (discretamente) de comer bolos. As condições em Luanda eram muito adversas, o BEN sentia um enorme peso por falta dos hábitos do berço. Amuava quando não consegui aos “mimos” que desejava. Tivemos cenas imperdíveis. Usava um relógio de pulso à prova de água, só mergulhava quando a água do mar estava na temperatura certa, 28 graus!
    Foi na companhia dele que fiz as duas primeiras grandes viagens em Angola: Benguela e Malange. Nos tempos em que se faziam estas viagens com pelos menos dois jipes, nunca só!
    Depois abandonou o grupo empresarial onde acabei por ficar até Outubro de 2018.
    Confesso que fui sabendo do Benjamim Formigo de vez em quando, creio que ficou amuado comigo!
    Só hoje soube que nos deixou.
    Carlos Monteiro

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