quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

O Altruismo do reporter de guerra

Quando era menina... (LOL) tinha recorrentemente a mesma discussão, com outro menino da minha idade... : )
Estou-me a rir porque me faz feliz a ideia de que, vinte e cinco anos depois, continuo a receber semanalmente em casa esse mesmo "menino"... Houve intervalos, houve anos em que nem sequer nos falámos... Mas reencontrá- mo-nos e hoje continuamos a ter o mesmo tipo de "discussões" que tínhamos aos dezassete anos... Mas enfim, estou a divagar, isto é assunto para outro post...

Como estava a dizer, tínhamos recorrentemente a mesma discussão.
Se bem me lembro, ele defendia que os reporters de guerra eram pessoas completamente altruístas, que arriscavam a vida para que o público pudesse saber as notícias. Eu, afincadamente defendia o contrário. O meu argumento era o de que no fundo, tudo o que fazíamos na vida era por egoísmo. Que podíamos de facto estar a fazer bem aos outros, mas que no fundo era porque gostávamos de o fazer. Defendia que ninguém, a não ser um louco, se iria meter no meio dos tiros só para que o mundo pudesse saber as notícias. Que para uma pessoa se meter nisso tinha que lhe dar um qualquer tipo de pica, adrenalina, paixão. Que para uma pessoa se ir enfiar, voluntariamente, de maquina fotográfica em punho, no meio das balas, não basta a vontade de fazer bem aos outros...

E de repente hoje, estava mais uma vez no carro nas bichas, que como já devem ter percebido é onde penso mais, quando me dei conta de que vinte e cinco anos depois, estou convencida de que ambos tínhamos razão... É engraçado como se vê a vida a preto e branco na adolescência...

Hoje em dia acredito piamente em que ser altruísta nos faz bem. É bom preocupar-se (no bom sentido e não no doentio) com os outros, é bom apoiar os outros, é bom ajudar os outros, acarinhar, mimar...
Não me sinto ainda com capacidade para conseguir explicar como cheguei a esta conclusão, mas para mim é uma realidade. Eu tento sempre "ser boa" (não vou sequer começar a definir o que quero dizer com isto... o banal "ser boa" popular serve) para os outros e a realidade é que em geral os outros "são bons" para mim. Os outros, tanto pode ser a menina do café como o meu tio. Trato-os com um sorriso e a realidade é que o sorriso vem de volta... regra geral... mas não se preocupem HÁ excepções, por muito estranho que pareça (LOLOLOLOLOLOLOL) há malta que não me grama!
Ou seja, tratar os outros bem faz com que sejamos bem tratados. Porreiro. Por outro lado, se fizermos coisas pelos outros, os outros fazem coisas por nós, e não necessariamente os mesmos "outros". Mas isto, mais uma vez, é assunto para outro post. Mas ainda não quero falar sobre o assunto senão vão achar que eu sou doida e vão deixar de cá vir ler-me... Fique mo-nos no "eu acredito que", sem mais explicações, se formos pessoas decentes, que se preocupam (no sentido inglês de "care") com o próximo, seja o próximo o nosso filho ou um desconhecido com que nos cruzámos no metro, somos tratados em geral da mesma maneira. E isso sabe muito bem. É agradável, sentimo-nos acarinhados pela vida.

Voltando então à velha história do reporter de guerra... Continuo a achar que é preciso uma certa dose de loucura e gostar muito do que se faz, para ir disparar fotos para o meio dos tiros. Mas hoje acredito que ninguém o faça se não tiver também uma grande dose de altruísmo. Nunca ouvi falar em nenhum fotografo, no meio dos tiros, a dizer "continuem pessoal, continuem, estou só aqui a tirar umas fotos para o concurso da Magnum... "

Carlinhos... ao fim de 25 anos, cedo-te um empate técnico ; )

Bjs a todos
C

3 comentários:

  1. Aceito diplomaticamente o empate técnico

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  2. "Olhe que não, olhe que não" é um excelente comentário.
    Obrigada ao amigo Nuno pela elucidativa participação...

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