quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

O Rei vai nu...

Eu sei que este Blog é teoricamente sobre "receitas"... e o que vou escrever hoje não é receita nenhuma, mas a bola é minha e não consigo impedir-me de partilhar este pensamento que me assaltou ontem derrepentemente : )

Quando era pequena queria "ser escritora"...
Fartava-me de escrever "coisas".
Há uns anos escrevi um livro.
Escrevi-o com a intenção de tentar publica-lo, claro.
A primeira pessoa a quem o mostrei, uma pessoa por quem tenho grande consideração, com vasta experiência em "publicações", disse-me simpaticamente para ir em frente e mandou-me uma lista de editoras a quem enviar o dito livro para ver se alguma estaria interessada...
Acontece que não acreditei no que me disse, pareceu-me "supportive" mas não muito sincera...
Não me lembro se cheguei a envia-lo para alguma editora, acho que não, mas em todo o caso muito rapidamente me "deixei de ideias".
Várias pessoas já o leram, tenho duas ou três cópias que foram passando de mão em mão, entre amigos e família, ficando esquecidas em casas várias...
Quando esporadicamente releio partes dele acho que não tem qualidade nenhuma. Decididamente não tenho veia de escritora.
Aconteceu-me a mesma coisa com a fotografia. Fiz o curso, experimentei, mas não me dei bem, sou assumidamente uma fotografa medíocre. Como não gosto de fazer coisas em que não sou boa, desisti.

Gosto no entanto de falar... E acho que até tenho um certo jeito para me exprimir. Como devem ter reparado, aliás, escrevo exactamente como falo. Não procuro grandes figuras de estilo, utilizo construções de frase e palavras incorrectas, etc...

Quando comecei a escrever este Blog, achava que estava a escrever para a "malta do costume" de repente dei-me conta de que não faço ideia de "com quem estou a falar". Na realidade isto acaba mesmo por ser mais um monólogo. Por muito que alguns se esforcem por participar, o facto é que a maior parte da malta, não deixa comentários.
Exponho os meus pensamentos, as minhas ideias, dando exemplos pessoais, mas não sei a quem...
Senti-me completamente "o Rei vai nu"...

Eu explico... Nós vesti mo-nos consoante a ocasião, certo? Eu pelo menos não vou para o ginásio vestida da mesma maneira do que para um casamento...
Ora quando falamos com alguém é a mesma coisa, não se fala com o avô da mesma maneira do que com o coleguinha de curso... Não utilizamos as mesmas expressões, as mesmas palavras, não abordamos os mesmos temas...
De repente senti-me como alguém que está a ser levada para qualquer lado mas não sabe para onde... Não faz ideia se a sua roupa está adequada...

E aqui é que está o busilis da questão... O que é "a roupa adequada"? Pois... Não há roupa adequada porque não sabemos com quem nos vamos encontrar... em que circunstâncias...
De repente senti-me em plena praça pública... Sem qualquer controle do meu discurso...
Quando falamos com alguém, ao vivo, que era o que eu fazia até começar este Blog, estamos-lhe a topar as expressões, as reacções, sabemos como encaminhar a conversa, percebemos se estamos a divertir, a agredir, a ofender, a envergonhar, a dar seca...
O tipo de "conversa" que tenho tido neste Blog é exactamente o mesmo que temos cá em casa, entre amigos, ou ao almoço com a família... Só que agora eu não "vejo" o interlocutor, não sei como é que está a reagir ao meu diálogo. Se alguém "ler mal" o que digo provavelmente não vou saber....

E de repente dei-me conta do que era "publicar um livro", não em termos de sucesso, não em termos de qualidade, mas em termos de deixarmos de ter controlo sobre as nossas ideias... Manda-se partes do que pensamos cá para fora, porque é impossível mandar tudo, e vamos ser "julgados" (no bom sentido) por isso.
Não há hipótese de refutar, de corrigir, de explicar melhor...

Desde que comecei tenho tido uma média de 5 visitas por dia. Tenho 54% de "returnings" Vs 46% "new" o que quer dizer que este Blog está a crescer...
Não faço ideia de quanto tempo vai durar. Não sei durante quanto tempo vou ter coisas para dizer, paciência para o fazer, pessoas para me ler ...
Mas enquanto "estiver no ar" qualquer pessoa me pode estar de facto a "interpretar", incluindo pessoas que não me conhecem de lado nenhum...

Talk about scaryyyyyy....

Bjs
C

2 comentários:

  1. Pois é, isto é basicamente igual a estares no meio da praça da figueira com a boca no trombone e falar para os transuentes que passam sem lhes ver a cara/expressão: uns param para ouvir, outros passam e não ligam, outros querem intervir e não conseguem, apenas conseguem escrever um bilhetinho para tu depois leres (tipo afixam bilhetes perto do local onde estás tu com a boca no trombone para que tu e outros leiam, se quiserem)!

    Por exemplo neste blog apetecia-me intervir qd falas da tua falta de jeito para escrever, ou na tua não vocação para a fotografia, poisssssss na minha opinião estas duas artes percisam de uma vocação sim, mas acima de tudo de muita vontade e de muito trabalho... ninguem vira David Zimmerman depois dum curso de fotografia, também não acredito que todos os escritores capazes de passar uma mensagem profunda o tenham conseguido no primeiro escrito que fizeram. Logo penso que é preciso vocação (sem duvida) mas também muita determinação, vontade e (voltando ao tema de outro post) não ter medo de falhar e como sempre muito mas mesmo muito trabalho ;))))

    Kisses a todos os 5 visitantes de hoje!

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  2. Cri, aparte os escritores, a mesma coisa é sentida - num meio mais restritivo - pelos colunistas tipo Pacheco Pereira.

    No fundo expõem a sua opinião num meio onde não há sequer o imediatismo de um comentário, como aqui no blog.

    Porque é que achas que o Pacheco Pereira abriu o Abrupto?

    bom post, no entanto!

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