terça-feira, 22 de novembro de 2011

A feliz apanhadora de ameijoa

COM MÚSICA



Já muitas vezes pensei em escrever sobre este tema e sempre me reprimi, achando que não tinha conhecimentos suficientes sobre o assunto para o poder fazer. Comprei livros, investiguei na net, sem nunca me sentir habilitada.
Cheguei no entanto à conclusão de que não preciso de ser uma expert para transmitir o que sinto, o que penso, o que observo, que valem o que valem.
De qualquer forma, como me disse uma vez um Sr. Doutor de Coimbra: “Ó filha, tu dizes estupidezes com muita naturalidade...”
Vou portanto desta vez ter a audácia de o fazer. lol

Conheço cada vez mais gente, uns mais próximos do que outros, que se tem vindo a tornar Budista... e... não me parecem ser pessoas lá muito  felizes ou satisfeitas com a vida. :(
Posso, estar profundamente enganada, mas é sem dúvida o que a minha percepção me transmite.  

São geralmente pessoas extremamente correctas, gentis, bem educadas. São aparentemente calmas, falam pausadamente e sem levantar a voz, não utilizam “expressões fortes” nem “dizem mal” do próximo. Aplicam-se em ter hábitos saudáveis, uma alimentação equilibrada, muitos são vegetarianos, não fumam, não bebem, fazem yoga, meditam, vão a retiros. Preocupam-se e dedicam-se aos outros, à natureza, ao ambiente, frequentemente abraçando causas.
Têm no entanto, a meu ver, um ar profundamente triste.

Recentemente, numa noite de jogo em que, por razões que não são para aqui chamadas, acabámos por não poder jogar, dedicámo-nos enfaticamente a outra actividade, também ela muito do meu agrado; a conversa. Esta acabou por recair sobre o tema em questão.

O meu “mais que tudo” (em termos de amizade), é um dos que abraçou esta filosofia de vida e, mais uma vez, lhe disse que não compreendia.
Declarou então que ele é que não compreendia como é que, 99% das pessoas, conseguiam viver sem se questionarem, sem procurarem respostas.

Quando perguntei se achava que EU não procurava respostas, respondeu-me que, dos 99%, eu era sem dúvida das que mais procurava... à superfície... que era a melhor “apanhadora de ameijoa” que conhecia... mas que não passava disso, não ia mais fundo.

Sinto-me perfeitamente incapaz de reproduzir a longa conversa (de qualquer forma, o respeito pela privacidade alheia leva-me a preferir não a expôr para uso num grupo tão alargado... lolololol )  dado que estes meninos tendem a falar de forma absolutamente críptica para mim. Pão pão, queijo queijo, não é definitivamente o seu forte e não há cá afirmações claras, é preciso descodificar tudo o que dizem.

Em todo o caso, o sumo que consegui toscamente extrair, é que o “aqui e agora”, não serve para eles. Não chega, não satisfaz, precisam de perceber alguma coisa que eu não consegui perceber o que era. Isto à mistura com o “vir cá muitas vezes” e eventualmente a felicidade não estar sempre presente.
Acabámos por concordar em discordar, pois eu também não consegui demonstrar que, se era feliz agora, nada mais importava.

Como já aqui disse várias vezes, a minha felicidade é uma coisa bastante recente. Tempos houve em que acreditava que se tratava de um “estar” e não de um “ser”. Até que descobri que esta depende exclusivamente de nós, de decidirmos ser felizes “apesar de”.
E se tenho tido “apesares de” desde que me assumi como feliz...

Acredito que se possa perder. Acredito que possam ocorrer mudanças em nós que nos roubem a força de continuar a ser felizes. Mas enquanto o pau vai e vem...

O estado do mundo, a miséria humana, o sofrimento em geral, foram mencionados algures na conversa. Não consegui perceber em quê que o facto de me sentir infeliz pudesse aliviar a situação. Não sou feliz ás custas de nada, nem de ninguém e faço o que posso para contribuir para um mundo melhor.

Esse  sofrimento, que aparentemente tanto os atormenta, que tentam evitar, erradicar é, aos meus olhos e dentro de certa medida, extremamente útil. É ele que nos permite crescer, aprender, evoluir. Não estou de todo a sugerir que o procuremos ou provoquemos nos outros. Só não me parece que seja o fim do mundo.

Acima de tudo acredito que, se perdermos a capacidade de sofrer, perderemos também a de realmente apreciar o outro lado da moeda.

Como dizem os franceses:
“pourquoi faire simple, quand on peut faire compliqué?!”
ou
"Happiness in intelligent people is the rarest thing I know."
Ernest Hemingway
Se calhar é mais por aí... não conheço Budistas burros. ;)




  "Há uma esfera que não é certa, nem água, nem fogo, nem ar: 
a esfera do nada, é só aí o fim do sofrimento" 
Buda

 I rest my case...
Ameijoas à Bulhão Pato, anyone?! ;)












3 comentários:

  1. não utilizam "expressões fortes" nem "dizem mal" do próximo

    ROTFL LMAO!!!!!

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  2. Quando a felicidade é entendida como um sinónimo (um sinal) de inconsciencia... nada a fazer.

    One thing I'll say for them:

    O Dalai Lama parece-me uma pessoa feliz, com todos os seus "apesar de"

    Creio que o maior problema não estará no budismo em si mas na maneira que os tais budistas tem de se levar tão, tão a sério. Para quê?

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